ARTIGO: ZÉ DO JUDAS, FAVELA BRASÍLIA E OUTROS RITUAIS

Artigo escrito pelo jornalista Paulo Tadeu, publicado no Jornal O Estado, no dia 03 de Abril de 2009. O texto foi enviado para o nosso e-mail.
“Zé do Judas”, “Favela Brasília” e outros rituais
Paulo Tadeu – Jornalista

O Ciclo Quaresmal está findando, com suas fortes tradições religiosas e folclóricas. Neste ângulo permito-me registrar, como membro da Comissão Cearense de Folclore, a Malhação de Judas, folguedo do Sábado de Aleluia, que resiste pujante em Fortaleza, graças a gente como o “Zé do Judas” (Jean Carlos Alves da Silva, 33, casado), que há um mês, montou sua oficina de boneco sob árvores, na esquina da Raul Barbosa com Murilo Borges, ao lado do “Carneiro Auto-Peças”, entrada da “Favela Padre Cícero”. Conheceu a brincadeira ainda criança, no Sítio Buriti em Pacajus. A herança veio do seu tetravô que passou a arte para o avô Luiz Rodrigues e para o pai Francisco Gonzaga da Silva. Jean é pintor/letreiro, mas na Quaresma torna-se artesão e repassa saberes a 15 amigos que ganham alguns trocados apara ajudá-lo. Os “Judas” são de boa qualidade. O cliente ao parar o carro teme a insegurança do local, mas o artesão tranquiliza dizendo-se conhecido na área. Aliás, um ajudante informou que “as crianças da “Favela Padre Cícero” já crescem violentas, pois aqui não tem empresário para dar exemplo”. O referencial é a bandidagem. E aí fica a lição para as autoridades darem creches, esporte, cultura, internet, lazer e ensino profissionalizante aos infantes da periferia... Tem “Judas” para todos os gostos, inclusive “retratando políticos quer prometem e não fazem nada por nóis” disse outro ajudante. Estes são feitos sob encomenda “mas a gente não expõe, é escondido, pra não bulir com gente graúda”, acautela-se “Zé do Judas”, que atende aos pedidos pelo celular 8764-5904.

Já na Expedicionários com a Borges de Melo, há Judas em abundância, feitos com enchimento de palha, próprio para queimar. O vendedor é o ambulante Roberto Carlos Fernandes,45, que mora na “Favela Brasília”,ao lado, perto do canal do Jardim América. Fazia Judas para brincar, mas ao botaram preço, despertou para o negócio. Assim, morreu a “Malhação de Judas” e surgiu confecção, com o trabalho das artesãs Dona Regina, Vanda, Madalena, Carmem Lúcia e a filha de D. Estelinha, pessoas que na Semana Santa ganham uma rendinha extra. O ponto atrai outros vendedores de Judas, como o Seu Haroldo, que sempre aparece na Sexta-Feira da Paixão trazendo os seus bonecos lá da Santa Rosa. É o dia de maior movimento, pois os compradores já estão caindo na folia aqui ou no interior. O local imprime segurança, por conta proximidade de dois Quartéis do Exército. Judas também são vendidos na Gentilândia, o que denota que no Sábado de Aleluia não faltarão forcas, sítios, testamentos e folia na malhação ao Traidor de Jesus. E viva os condutores da cultura popular tradicional!

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